quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


A melhor e a pior comida do mundo.

Nos tempos das arábias, há muitos anos, um velho e rico mercador contratou os

serviços de um cozinheiro idoso, encurvado, feio, mas com a fama de ser um verdadeiro

sábio. Logo, para provar as qualidades de seu criado, o mercador ordenou:

– Toma esta sacola de moedas. Corre ao mercado e traze de lá o que houver de

melhor para um banquete. Eu quero a melhor comida do mundo!

Pouco tempo depois, o cozinheiro voltou do mercado e colocou sobre a mesa um

prato coberto por fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso:

– Oh, língua? Muito bem! Nada como a boa língua que nossos pastores sabem

tão bem preparar. Mas por que escolheste exatamente a língua como a melhor comida do

mundo?

O cozinheiro, de olhos baixos, explicou sua escolha:

– O que há de melhor do que a língua, senhor? A língua que falamos é que nos une. Sem a

língua não poderíamos nos entender. A língua, a compreensão do idioma, é a chave das ciências, o

órgão da verdade e da razão. Graças à língua é que se constroem as cidades, graças à língua podemos

declarar o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura, da compreensão. É a língua

que torna eternos os versos dos grandes poetas, as ideias dos grandes escritores. Com a língua se

ensina, se persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se descreve, se elogia, se demonstra, se

afirma. Com a língua dizemos “mãe”, “paz” e “Deus”. Com a língua dizemos “eu te amo”! O que pode

haver de melhor do que a língua, senhor?

O mercador levantou-se entusiasmado:

– Muito bem, muito bem! Realmente tu me trouxeste o que há de melhor. Toma agora

esta outra sacola de moedas. Volta ao mercado e desta vez compra lá o que houver de

pior, pois quero provar a tua sabedoria!

Depois de algum tempo, o criado voltou do mercado trazendo outro prato coberto

por um pano. O mercador recebeu-o com um sorriso:

– Hum... já sei o que há de melhor. Vejamos agora o que há de pior...

O mercador descobriu o prato e ficou indignado:

– O quê?! Língua? Língua outra vez? Língua? Não disseste que a língua era o que

havia de melhor? Queres ser despedido?

O cozinheiro encarou o mercador e respondeu:

– A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início

de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade,

que divide os povos. É a língua que usam os maus políticos quando querem nos enganar com

suas falsas promessas. É a língua que usam os vigaristas quando querem trapacear. A língua

é o órgão da mentira, da discórdia, dos desentendimentos, das guerras, da exploração. É a

língua que mente, que esconde, que engana, que explora, que blasfema, que insulta, que

se acovarda, que mendiga, que xinga, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que

seduz, que corrompe. Com a língua, dizemos “morre”, “canalha” e “demônio”. Com a língua

dizemos “não”. Aí está, senhor, porque a língua é a pior e a melhor de todas as coisas. Se

conhecermos nossa própria língua, se pudermos compreender tudo aquilo que ouvimos, tudo

aquilo que lemos, todo o conhecimento que a Humanidade deixou registrado por escrito, conquistaremos

o mundo. Do contrário, seremos escravos para sempre!

 
 
 
Temos que saber controlar muito bem a língua para que ela não tenha um mal uso. :)

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